
Tente se lembrar da primeira vez que você percebeu que estava apaixonado. Não tô falando do seu primeiro beijo por que talvez ele nem tenha sido um apaixonado, nem do seu primeiro namoro por que talvez nem tenha ido tão longe. E talvez ainda, você nem tenha beijado a pessoa que mais desejou. Tô falando da primeira vez que você se surpreendeu por estar pensando em uma pessoa de forma mais especial (se é que posso dizer) do que pensa nas outras pessoas. A primeira vez que você teve um medo irracional de que alguma coisa acontecesse de negativo entre vocês. Aquele dia que depois de ter ido ao cinema com ela, secretamente se surpreendeu por nunca ter estado tão feliz.
Se descobrir apaixonado é sempre muito gostoso. E comigo a primeira vez foi chocante, prazerosa e conflitante dentro da minha cabeça. Chocante por que me peguei olhando pra alguém que estava todo dia lá comigo há anos e eu nunca tinha visto mais que um amigo nele (mesmo que fossemos muito íntimos) e nem sonhava que chegaria a me sentir assim. Prazeroso já era desde quando o sentimento era só de amizade. Conflitante? Essa você deve imaginar, na época em que isso surgiu eu era religioso demais pra aceitar aquele prazer numa boa. Por causa disso tudo, foi o momento mais intenso da minha vida e até hoje se você me perguntar quantos anos eu gostaria de ter eu te respondo na lata, 16 pra sempre.
A memória que eu quero registrar aqui não é chocante. Se fosse uma foto, você nem imaginaria o que a cena tem de tão importante. Uma rua, duas bicicletas descendo por ela em alta velocidade, uma corrida. Dois moleques suados com o vento batendo na cara. Me lembro de estar perdendo. Mas era bom, de trás dava pra ver quem estava na frente e observar o cabelinho dele mexendo com o vento. Nossa! Como eu gostava daquilo. Descia aquela rua naquela bicicleta com aquela companhia muitas vezes no dia e foi em uma dessas descidas que eu tive aquele frio na barriga e pensei: "Não sei como eu consegui viver sem isso tanto tempo."